Há um ditado popular que questiona “por que deixar para amanhã o que se pode fazer hoje?”
Tudo aquilo que podes fazer agora, mas que adias por alguma razão, significa procrastinar.
Procrastina quando compras o anel de noivado, mas não pedes a pessoa em casamento.
Também ao adiar tarefas de hoje para o dia seguinte, como um telefonema para o cliente, a finalização de um relatório, a conversa necessária com o parceiro ou colega/chefe, ou a compra de um equipamento para a empresa.
A procrastinação é como um vírus, o qual nos leva a adotar essa postura nas mais variadas situações, pessoais ou profissionais.
É também um círculo vicioso, pois o que não fazemos hoje acumula-se com as tarefas de amanhã e, assim, um novo dia já se inicia com pendências.
Exemplo de procrastinação no trabalho:
Vou dar um exemplo para que entenda melhor a dimensão do problema.
Eu poderia não escrever este artigo hoje. Seja por qual for a razão, parece uma boa ideia fazer qualquer outra coisa, mesmo que nada.
Então, o dia de amanhã vai chegar e vou lembrar que não haverá tempo para escrever, pois tenho uma agenda cheia de outros compromissos.
Se a minha rotina for a de escrever um novo texto a cada dois dias, por exemplo, quando vier o dia depois de amanhã, aquele primeiro artigo que deixei de escrever ainda estará pendente e em falta. E será ainda mais difícil eu escrever dois textos num único dia, do que apenas um.
Está certo, é só um texto. Talvez possa fechar os olhos e ignorar.
Mas e as outras pendências? Sim, elas existem, o procrastinador nunca adia uma só tarefa ou decisão.
Olha para a tua realidade e analisa.
E se fosse um relatório para enviar a investidores? Ou um contato importante para um ótimo cliente, mas que está insatisfeito com os serviços? Ou aquela opinião à equipa que espera o teu cumprimento de promessa, mas que nunca concretizas?
Chega! O que deves fazer com urgência é descobrir as causas do problema e parar de procrastinar de uma vez por todas.
Causas da procrastinação:
Procrastinar não é doença, mas tem características bem próximas disso.
Ainda assim, não significa que todo aquele que adia uma tarefa ou decisão está a procrastinar.
O problema confirma-se com a repetição.
Se te identificas com isso, bom mesmo é ver agora as causas possíveis.
Psicológicas:
Sem medo de errar, posso afirmar que, na imensa maioria dos casos, a procrastinação explica-se pelas nossas emoções.
Ela é uma cortina de fumo, uma atitude que serve para mascarar outra.
No fundo, o problema de verdade é a sua insegurança ou medo, voluntário ou não, de dar aquele passo e cumprir a tarefa.
Nem sempre isso é racional, ressalvo aqui.
Voltando ao exemplo anterior, imagina eu ter medo de escrever este artigo e, por isso, procrastinar.
Não faria sentido se, lá no fundo, não houvesse um receio de não agradar, de receber críticas, de não ser boa o bastante, enfim…
Esses fantasmas mentais aparecem muito qualquer que seja o caso de procrastinação.
Uma mudança de emprego, o término de um relacionamento, a compra de um carro, a demissão de um colaborador, ter de negar algo a alguém muito querido ou temido…
Por trás de tudo isso, há uma possibilidade gigante de existir medo ou insegurança em relação ao que se segue.
Mas isso, ainda não explica tudo.
Procrastinar também pode ser consequência da falta de foco.
Tens de responder um e-mail, mas a discussão nas redes sociais sobre as eleições está ótima e sentes necessidade de participar, ou de ler tudo.
Aí, o trabalho já foi adiado.
Importante dizer ainda que a falta de foco é irmã gémea da desorganização.
Quem não gere o tempo da melhor forma é sempre um forte candidato a procrastinar.
Aí entra a medicina que também pode ajudar a explicar a procrastinação.
O comportamento seria uma resposta a uma batalha no nosso cérebro.
De um lado, o córtex pré-frontal, que comanda a nossa atenção e filtra possíveis distrações.
De outro lado, o sistema límbico, cujas estruturas relacionam-se com a sensação de prazer, satisfação.
Tudo estaria em ordem, se não fosse por lesões no córtex pré-frontal ou pelo seu menor uso e desenvolvimento.
Confere os três tipos de procrastinadores. Com qual deles te identificas?
O tipo evasivo
Este é um clássico. Para ele, procrastinar significa não ser julgado pelas suas atitudes.
Afinal, se nada fizer, ninguém lhe vai apontar o dedo.
Essa é uma forma comum de o procrastinador entender as suas tarefas, mas que não se sustenta na prática.
Dependendo da atividade, se eu resolver não a realizar por causa do medo de ser julgada, vou acabar sendo julgada pela minha falta de comprometimento.
O tipo relaxado
O procrastinador relaxado é aquele que age intencionalmente, embora nem sempre perceba os danos da sua atitude.
O que ele faz são escolhas. E como já diz aquele ditado, “cada escolha implica uma renúncia”.
Se eu realizar uma videoconferência com um cliente agora, vou deixar o comentário com a equipa para outro dia.
Se não responder aquele e-mail pendente, posso voltar as minhas atenções ao relatório financeiro que acabei de receber.
Tudo faz sentido e até parece uma decisão racional e saudável. Mas aquilo que escolho não fazer não deixa de existir por esse motivo.
Muitas vezes, esse tipo de erro tem como plano de fundo a incapacidade de gerir o tempo e organizar-se, assim como também a definição de prioridades.
O tipo tenso-nervoso
Falando em problemas com o tempo, o procrastinador tenso-nervoso mostra-se um verdadeiro campeão.
Ele já não é organizado e, a isso, soma-se a ansiedade e sentimentos negativos que só contribuem para não manter o foco no que de facto importa.
Há quase uma dependência pelo estado de pressão, de corrida contra o relógio, de provar para si próprio que tem bom rendimento nos piores cenários.
E se alguém o aconselha a pegar leve e relaxar, uma possível paragem só vai aumentar a sua sensação de culpa e o stress pelas tarefas que entretanto se acumularam.
Não significa, necessariamente, que o ele assumiu mais atividades do que aquelas que pode dar conta.
Talvez só não saiba organizar-se para fazer isso num nível saudável.
Temos uma bomba-relógio prestes a explodir. E o procrastinador tenso-nervoso sabe disso, tanto que se afasta do convívio social e costuma enclausurar-se num espaço onde só entram mais tarefas.