Ontem, em conversa com uma amiga, lembrei-me daquela que é uma das suas fábulas favoritas: a fábula da Sabe-Tudo.
Sabe-Tudo era o carinhoso nome pelo qual todas os habitantes do bosque conheciam a tartaruga. Quando alguém tinha um problema, sabia que a solução estava com a Sabe-Tudo, que passava as suas horas vagas a ler e a consultar enciclopédias. Tinha uma curiosidade insaciável e natural por todas as coisas, algo que contribuía obviamente para o seu conhecimento.
Todos os dias, um habitante do bosque procurava a Sabe-Tudo, com a sua questão:
– Desculpe-me Sra. Tartaruga, eu gostava de conhecer a ilha de Ceilão mas não…
– Não sabe como encontrá-la, certo? Eu ajudo-a, minha querida amiga Raposa – diz a Tartaruga com a sua característica amabilidade. – A ilha de Ceilão situa-se no Oceano Índico, ao sul da Índia. Foi útil a resposta?
– Oh, obrigada, obrigada, Sabe… Quer dizer, amiga Tartaruga!
A Sabe-Tudo sorri. Ela sabe como é conhecida no bosque, mas fica genuinamente feliz, pela celebração do seu conhecimento e pela admiração que crê poder existir por detrás dessa carinhosa alcunha.
Só que os anos passam. O conhecimento da Tartaruga torna-se imenso e, com ele, chega um novo olhar crítico, de superioridade para com todos os habitantes do bosque. De repente, a Tartaruga passa de amada e admirada, a uma criatura amarga e insatisfeita, que já ninguém visita. Os seus conselhos passaram a ser dados com desdém e desprezo, como se aquilo que estivesse a ser dito tivesse de ser do conhecimento geral, e sem a vontade de ajudar e partilhar que a caracterizaram no passado.
Esta fábula é um excelente lembrete do quanto a modéstia e a humildade devem sempre fazer parte da nossa vida, independentemente do nosso próprio brilho. Partilhar o nosso conhecimento com a verdadeira missão de ajudar, sem censurar e julgar os outros, é essencial a qualquer pessoa e profissão, mas é igualmente essencial à nossa convivência com as pessoas que amamos.
Todos nós estamos em diferentes estágios da jornada; ter essa consciência, saber ouvir e aconselhar quem possa estar atrás de nós, e para que assim o caminho possa fazer-se de uma forma mais rápida e fácil é um dos atos de gentileza mais bonitos que podemos ter pelo ser humano.
Todos nós temos algo único que podemos partilhar de forma genuína e sem competições.